O que a NATO significa para o mundo

Na próxima semana, os líderes dos 32 países da OTAN se reunirão em Washington, DC, para a cúpula do 75º aniversário da aliança. Eles celebrarão 75 anos de unidade entre a Europa e a América do Norte — unidade que protegeu a paz, a democracia e a prosperidade transatlânticas. Mas mais do que apenas uma celebração, a cúpula será uma oportunidade para tomar decisões que importam para o futuro de um bilhão de pessoas na Europa e na América do Norte.

Hoje, a segurança deles está em jogo. Quando o presidente russo Vladimir Putin enviou tanques para a Ucrânia em fevereiro de 2022, ele começou o conflito mais sangrento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, destruindo a paz no continente e criando tumulto no cenário global. Dia após dia, ele está intensificando ainda mais essa guerra. Não apenas os mísseis russos estão continuamente mirando os cidadãos, cidades e infraestrutura crítica da Ucrânia, mas o Kremlin também está se envolvendo em uma campanha coordenada de atos hostis contra os países da OTAN — incluindo sabotagem, ataques cibernéticos e desinformação. Enquanto isso, Moscou continua a sacudir seu sabre nuclear.

Putin não demonstra intenção de acabar com essa guerra tão cedo, e está cada vez mais alinhado com outras potências autoritárias, incluindo a China, que desejam ver os Estados Unidos fracassarem, a Europa se fragmentar e a OTAN vacilar. Isso mostra que, no mundo de hoje, a segurança não é uma questão regional, mas global. A segurança da Europa afeta a Ásia, e a segurança da Ásia afeta a Europa.

Esses são grandes desafios que exigem decisões ousadas, e é isso que os líderes da aliança abordarão na cúpula da OTAN. Começando em casa, fortaleceremos nossas próprias defesas para manter nosso povo seguro. Também reforçaremos nosso apoio à Ucrânia e trabalharemos lado a lado com nossos parceiros no Indo-Pacífico em nossas preocupações de segurança compartilhadas. O resultado será uma OTAN ainda mais forte — pronta para responder aos desafios de hoje e de longo prazo.

MAIOR E MELHOR

O principal propósito da OTAN não é lutar a guerra, mas evitar a guerra. É isso que a aliança tem feito com sucesso por três quartos de século, mesmo durante alguns dos períodos mais perigosos da Guerra Fria, quando havia centenas de milhares de tropas soviéticas prontas para o combate nas fronteiras da OTAN. A experiência nos ensinou que a melhor maneira de evitar qualquer ataque é garantir que nossa dissuasão permaneça confiável e nossas defesas fortes. Em outras palavras, a melhor maneira de manter a paz é estar preparado para a guerra.

O fim da Guerra Fria reduziu as tensões na Europa, mas 2014 marcou uma virada para a segurança transatlântica. Após a anexação ilegal da Crimeia pela Rússia e sua desestabilização do leste da Ucrânia, a OTAN renovou seu foco em sua tarefa principal de dissuasão e defesa. A aliança embarcou na transformação mais significativa em sua defesa coletiva em uma geração. Ela se afastou de grandes operações fora de suas fronteiras e se concentrou em uma defesa mais forte em casa — com mais forças em maior prontidão, em todos os domínios. A OTAN também se preparou melhor para a competição duradoura com a China, inclusive reduzindo dependências prejudiciais e aumentando a proteção de sua infraestrutura crítica, materiais estratégicos e cadeias de suprimentos.

Hoje, a OTAN é muito mais forte. Os militares da aliança são mais bem treinados e mais bem equipados. Há meio milhão de tropas em alta prontidão em todos os domínios — terra, mar, ar, espaço e ciberespaço — preparadas para defender todos os aliados da OTAN a qualquer momento. Elas treinam para trabalhar perfeitamente juntas por meio de exercícios grandes e exigentes, como o exercício Steadfast Defender deste ano, que viu tropas norte-americanas cruzarem o Atlântico, se moverem pela Europa e se exercitarem com forças europeias — envolvendo cerca de 90.000 tropas no total.

Os países da OTAN também estão investindo mais dinheiro em sua segurança. Desde 2014, os orçamentos de defesa de todos os estados-membros aumentaram. Só neste ano, os aliados europeus e o Canadá aumentaram os gastos com defesa em 18% — o maior aumento desde o fim da Guerra Fria. Quando me tornei secretário-geral da OTAN, em 2014, apenas três aliados gastaram dois por cento do PIB em defesa: Grécia, Reino Unido e Estados Unidos. Quando Putin lançou sua invasão em larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, ainda havia menos de dez atingindo a marca. Este ano, 23 aliados estão em ou acima de dois por cento. Europa e Canadá realmente se destacaram. Os Estados Unidos não estão arcando sozinhos com o fardo da segurança compartilhada da aliança.

Para ser claro, a OTAN não está fortalecendo suas defesas para provocar guerra. Ela está fazendo isso para proteger a paz. Não vejo nenhum risco iminente de um ataque militar contra um país da OTAN, porque a dissuasão da aliança funciona. Todos viram o que a aliança arrisca ao baixar a guarda. Ao sermos mais fortes, ficamos mais seguros.

SUBIR PARA A OCASIÃO

Desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, os estados da OTAN enviaram ajuda militar significativa para ajudar a Ucrânia a se defender contra a agressão russa. Esse apoio fez uma grande diferença no campo de batalha. Inicialmente, muitos esperavam que a guerra fosse curta, com Kiev caindo para a Rússia em poucos dias e a Ucrânia em semanas. Em vez disso, os ucranianos permaneceram fortes. Com o apoio da OTAN, eles lutaram bravamente por seu país e sua liberdade — recuperando mais da metade do território que os russos haviam tomado e repelindo a frota russa no Mar Negro. O último sucesso permitiu que eles reiniciassem a exportação de grãos ucranianos para os mercados mundiais.

Houve atrasos significativos no fornecimento de ajuda que tiveram consequências sérias no campo de batalha. Durante meses, os Estados Unidos não conseguiram aprovar um novo pacote de ajuda, e os europeus não conseguiram entregar munição na escala que prometeram. Testemunhei isso quando estive em Kiev em abril, onde o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky me explicou como a Ucrânia estava em menor número de armas e incapaz de abater mísseis e drones russos. Desde então, as coisas mudaram. Os aliados da OTAN em ambos os lados do Atlântico fizeram novos anúncios significativos, incluindo um pacote de US$ 60 bilhões dos Estados Unidos, para fornecer a munição e as defesas aéreas de que a Ucrânia precisa com tanta urgência.

A realidade, no entanto, é que para a Ucrânia prevalecer, a OTAN precisa fazer mais — e mais rapidamente. Para esse fim, na cúpula de Washington, os aliados concordarão em ter a OTAN liderando a coordenação da assistência de segurança e treinamento para a Ucrânia. Isso tornará o apoio da aliança verdadeiramente transatlântico e reduzirá o fardo sobre os Estados Unidos, que atualmente assumem a liderança. Essa troca também faz sentido, dado que 99% do apoio militar já vem de membros da OTAN, com cerca de metade vindo dos Estados Unidos e a outra metade da Europa e Canadá. Também espero que concordemos com uma promessa financeira, para dar à Ucrânia a previsibilidade de que ela precisa. Queremos deixar claro que estamos nisso para o longo prazo. Quanto mais forte for nosso apoio à Ucrânia, mais cedo Putin perceberá que não pode nos esperar, e mais rápido essa guerra pode acabar.

Aumentar nosso apoio não faz da OTAN uma parte deste conflito. A aliança não busca confronto com a Rússia. Mas apoiamos e continuaremos a fazer tudo o que pudermos para apoiar o direito fundamental da Ucrânia à autodefesa, conforme consagrado na Carta da ONU.

MESMO BARCO

Finalmente, na cúpula da próxima semana, a OTAN aprofundará os laços com seus parceiros globais — mais notavelmente no Indo-Pacífico. Estou ansioso para receber os líderes da Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul em Washington. Será a terceira vez que esses países participarão de uma cúpula da OTAN: um testemunho de nossos laços crescentes e interesses compartilhados. Juntos, enfrentaremos o autoritarismo, defenderemos as regras globais e protegeremos nossos valores democráticos, agora e no futuro. Construiremos uma cooperação prática por meio de projetos emblemáticos sobre Ucrânia, cibernética, desinformação, novas tecnologias e produção industrial de defesa.

A OTAN é uma aliança da Europa e da América do Norte, e continuará assim. Mas os desafios que enfrentamos são internacionais. A guerra na Ucrânia demonstra claramente esse fato. A Rússia seria incapaz de sustentar essa guerra sem o apoio de seus amigos autoritários na Ásia. O Irã e a Coreia do Norte, respectivamente, dão à Rússia drones mortais e projéteis de artilharia em troca de tecnologia russa e suprimentos militares.

Por sua vez, Pequim está fornecendo apoio crítico ao esforço de guerra de Moscou. Publicamente, o presidente chinês Xi Jinping quer que o mundo acredite que ele está pressionando pela paz. Privadamente, no entanto, ele está alimentando o conflito enviando à Rússia tecnologias de ponta, como semicondutores e microeletrônica, que Moscou usa para produzir mísseis, tanques e aeronaves. Ao mesmo tempo, Xi quer manter boas relações com o Ocidente para evitar sanções e manter o comércio fluindo. Mas ele não pode ter as duas coisas. Em algum momento, o apoio da China à guerra ilegal da Rússia deve ter um custo.

A cúpula de Washington oferece à OTAN uma chance de, mais uma vez, mostrar sua unidade e determinação. Os desafios que a OTAN enfrenta são grandes demais para qualquer país enfrentar sozinho — nem mesmo os Estados Unidos, a maior potência do mundo. Os Estados Unidos abrigam um quarto da economia mundial, mas, combinados, os aliados da OTAN têm metade da economia mundial e metade de seu poderio militar. Juntos, nossa dissuasão é mais confiável, nosso apoio à Ucrânia é mais constante e nossa cooperação com parceiros externos é mais eficaz. Putin e Xi se opõem veementemente à OTAN porque ela representa o que eles mais temem: a liberdade de escolher o próprio destino. Eles odeiam o bloco porque ele tem o que eles não têm: grande força na unidade de 32 países aliados. Enquanto os líderes desses países se dirigem à cúpula de Washington na próxima semana, eles devem se preparar para um mundo cada vez mais perigoso. Não sozinhos, mas juntos, em uma OTAN forte.